"(...) O impulso apolíneo conduz a um estado de tranqüilidade, segurança, pois encobre a realidade, a dor e o sofrimento de tal maneira que esta nova realidade criada, a bela aparência, passa a valer como verdadeira realidade. O dionisíaco, por sua vez, ao promover o conhecimento da realidade, ao mundo que se esconde sob a bela aparência, um mundo marcado por dor e sofrimento, pode levar a uma negação da vida pelo desgosto causado pelo horror e absurdo do ser. (...)"
"(...) Esse conhecimento, ou melhor, essa experiência dionisíaca se dá de forma imediata, ou seja, não é mediada por imagens, é uma intuição (Anschauung), um conhecimento que não pode ser adquirido por meio de conceitos e, por isso, se apresenta como antípoda ao conhecimento socrático, primeiro por privilegiar a vivência em detrimento do discurso racional, e, segundo, por não ser moral, ao desvincular a moral e estética, não mais equiparando o Bem à Verdade e ao Belo. (...)"
"(...) A Metafísica da arte justifica a existência e o mundo como fenômenos estéticos, tornando-os possíveis de serem vividos, pois a vida torna-se viável quando há espaço para o encantamento, para o espanto, para as novas possibilidades. O mundo é visto como a eterna possibilidade do criar, do vir a ser, não havendo espaço para o definido, o determinado, para verdades, pois tudo está em constante mudança, num eterno devir.(...)"
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O Trágico como afirmação da vida. -
Célia Machado Benvenho
(Revista Trágica: estudos sobre Nietzsche – 2º semestre de 2008 – Vol.1 – nº2 – pp.18-36)